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A Música como Multiplicadora: Trazendo a Cultura Nordestina para Nova Iorque


Como é que uma norte-americana de descendência japonesa como eu se tornou DJ de forró em Nova Iorque? ​​

Minha história com forró começou aqui em Nova Iorque no verão de 2015. Naquela época a comunidade forrozeira era pouco organizada e tinha muito menos gente. Nós amávamos o nosso forró, mas era “cada um por si”. Tinham umas 2 ou 3 aulas de dança por mês, mas a maioria das pessoas que conheci no forró já dançava, tinha aprendido em algum outro lugar. Então, eu sendo novata no mundo de forró, buscava inspiração através do Youtube, assistindo vídeos de apresentações em vários festivais do Brasil e Europa. Virou um costume para mim, eu baixava as músicas que mais gostava e as escutava no caminho do forro, treinando os passos na minha cabeça do jeito que via nos vídeos. Eram músicas do Falamansa, Hino Malino, Bicho de Pé, e etc. Eu conhecia praticamente todo o canal "Forró Stream" no Youtube. Aquelas músicas encheram meu playlist. Mesmo assim, entrei numa fase em que eu comecei a sentir que estava faltando alguma coisa, que teria alguma parte desta cultura que eu não estava tendo acesso. Foi durante a primeira vez que viajei para Belo Horizonte em Minas Gerais que eu finalmente conheci o forró “na pele”. Eu fiquei totalmente encantada com o forró que Belo Horizonte me apresentou. Foram tantas músicas lindas que nunca tinha escutado antes, dançarinos com vários estilos para se dançar, tantos ritmos e jeitos diferentes de interpretar a música, e tudo era fortemente influenciado pelo som do DJ ou banda tocando. Foi muito além do que eu imaginava que forró poderia ser. Nessa viagem percebi que o forró de Nova Iorque, do jeito que eu o conhecia, era apenas um pedaço de algo bem maior.

Com essa nova curiosidade, fiquei viciada em descobrir ainda mais músicas. Usava o Spotify, meu velho amigo Youtube e grupos de rede sociais para procurar novas canções. Cada vez que descobria uma música que me empolgava, eu a escutava obsessivamente, dançando na minha cabeça, sentindo a emoção da dança na minha imaginação. Quanto mais o repertório das minhas músicas expandia, mais eu começava a sentir também que deveria fazer alguma coisa com todo esse repertório.

Em Nova Iorque, temos a sorte de contar com músicos super talentosos e envolvidos na comunidade, porém durante o período de intervalo entre as apresentações da banda, os DJs sempre tocam as mesmas gravações. A menos que você faça questão de procurar na internet, não tem outra maneira de descobrir novas músicas na cidade. Tudo mudou quando a Cookie, uma organizadora de eventos na cidade, me perguntou em Agosto de 2017 se eu teria interesse em ser a DJ de uma nova série de festas de forró que aconteceria mensalmente aos sábados. Eu não pensei duas vezes para aceitar. E foi por essa demanda que a “DJAPA” foi criada. A primeira vez virou a segunda, a segunda virou a terceira, e foi assim que eu assumi o papel de DJ nesses eventos. Foi muito empolgante para mim experimentar essa nova perspectiva do forró, me envolvendo na produção do evento em vez de só participar pela dança. Ver as pessoas dançarem enquanto eu toco as músicas me faz lembrar do porquê que eu amo tanto o forró - a energia de gente alegre, a animação, a criatividade espontânea que só a dança inspira nas pessoas. Se tem alguma coisa que eu possa fazer para que os outros amem mais o forró, eu faço, e sendo DJ eu finalmente achei meu lugar. Hoje em dia me sinto parte daquele “algo bem maior” que notei na primeira viagem para Belo Horizonte. Eu amo ver as pessoas se animando quando solto alguma música que elas gostam, assim como quando alguém vem correndo para a mesa depois de dançar, perguntado qual era o nome da música que acabei de tocar. São esses momentos que me motivam para ir mais fundo, descobrir ainda mais sobre a cultura nordestina, e fazer minha parte em ajudar a comunidade de forró em Nova Iorque crescer.

Esse tipo de cultura originada no interior de um país raramente se espalha para fora de sua região, muito menos para o outro lado da planeta. Mas o forró conseguiu. Esse pedaço da cultura nordestina hoje em dia tem amantes fiéis em literalmente cada canto do mundo, com comunidades de forrozeiros surgindo em várias cidade no mundo ocidental. O que é mais impressionante sobre a cultura do forró é que mesmo longe do Brasil, a essência da cultura nordestina nunca se perde no caminho. Não importa se for um festival ou evento de forró no Hamamatsu, Paris, Londres, ou Nova Iorque, sempre se ouvirão as músicas dos artistas mais modernos (como Dona Zefa, Trio Juriti, Ó do Forró, etc) ao lado das músicas dos velhos tempos (como Dominguinhos, Mestre Zinho, Ary Lobo, etc).

As preferências musicais variam bastante de forrozeiro para forrozeiro, então o equilíbrio entre os diferentes estilos é algo que sempre considero quando proponho músicas para a galera dançar. Eu mesmo sou uma aluna aplicada de pé-de-serra, hoje em dia vejo que o quanto mais aprendo sobre o forró, mais tenho a aprender. Esses dias eu comecei um novo projeto na plataforma Mixcloud para experimentar com os diversos estilos das músicas do forró, algo que compartilharei com os resto da comunidade num futuro próximo.

Tiago's birthday party

Através das músicas que nos inspiram a dançar, meu objetivo agora é atrair ainda mais pessoas para o mundo do forró. Desejo que cada um encontre sua própria história para contar, cheia de experiências, danças, e amizades incríveis… de repente, até romance.

Graças a dedicação dos nossos professores, organizadores, músicos e membros da comunidade forrozeira, o forró em Nova Iorque está crescendo rapidamente. Cada vez mais eu vejo pessoas de fora se interessando pelo que fazemos aqui, assim como querendo participar e colaborar. Eu tenho certeza que estamos só no primeiro capítulo de muito que há por vir. Que as próximas aventuras da comunidade forrozeira sejam tão gostosas quanto a próxima dança!

Recursos Adicionais:

 

SOBRE A AUTORA: Annri Araseki (Djapa) é uma nativa do estado da Georgia, atualmente reside em Nova Iorque e trabalha na indústria financeira. Ela foi fortemente atraída pela cultura Brasileira 2014 quando fez intercâmbio em Florianópolis, Santa Catarina - Brasil. Annri se formou em Letras com concentração na cultura e língua portuguesa. Ela gosta de todos os tipos de expressão criativa, e pode ser encontrada a qualquer momento dançando, atuando como DJ, lendo livros, escrevendo, desenhando, ou então viajando.

Editado por Rafael Piccolotto de Lima.

Revisado por Carolina Gomes.


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